top of page

Desde 2004, a ONG A4 - Associação de Amigos dos Animais Abandonados - vem trabalhando no município de Campina Grande, na Paraíba, de acordo com a disposição de pessoas e empresas voluntárias e parceiras, para o desenvolvimento de uma série de ações práticas e pedagógicas relacionadas à defesa da causa de cães e gatos abandonados.

 

Realizar o resgate dos animais que se encontram na rua é uma questão de chamar a atenção da comunidade para a importância da vida, saúde e segurança pública na cidade, segundo explica o jornalista, professor e presidente da associação, Anderson Lins. A A4 está em atividade para realizar, em Campina Grande, além do resgate de animais, campanhas de conscientização em prol dos bichanos com o intuito de fazer com que a sociedade eleve seus padrões de harmonia e sensibilidade para com os animais.

Cuidar dos animais faz bem para todos

COM A PALAVRA - E seu interesse pela causa, como surgiu?

ANDERSON LINS - Eu sempre tive animais, sempre gostei desde pequeno, principalmente de cachorro. Há uns sete anos atrás eu entrei em contato com uma pessoa do abrigo porque eu queria adotar um vira-lata, então a coordenadora do abrigo, Elizabeth, conseguiu que eu fizesse a adoção desse animal e eu fiquei ajudando, financeiramente, o abrigo. Eu já conhecia o trabalho deles e quis ajuda-los como uma forma de agradecer pelo animal que ela havia conseguido para mim. A partir daí fui me engajando, participando das reuniões e foi dessa forma que eu me afinei bastante com esse trabalho do abrigo e, eu sempre digo que o principal motivo para eu e qualquer um se engajar nessa causa é a sensibilidade para com os animais. Nós temos condições de verbalizar um pedido de ajuda, dizer que estamos com fome, com sede e com frio, mas, e os animais?

 

C.P - Durante esses anos de trabalho na A4, quais foram os seus principais desafios?

ANDERSON - A insensibilidade humana é um desafio grande e é aquilo que eu considero a origem do problema. Se a gente conseguisse despertar a sensibilidade nas pessoas talvez não existisse tanto animais errantes pelas ruas. Eu costumo dizer que nós, da A4, somos vozes que clamam no deserto, pois nós não somos ouvidos e é muito difícil às vezes, nós acabamos ficando descrente da humanidade. Quando nos deparamos situações em que as pessoas agredirem simplesmente por agredir os animais e eu fico pensando como é que uma pessoa pode machucar um ser que não faz nada, a não ser dar e pedir carinho às pessoas. E é muito difícil quando nós nos deparamos com cenas de animais mortos; eu, por exemplo, já vi um animal morrendo envenenado na minha frente e situações assim são muito complicadas. Tudo isso, todas essas situações voltam para essa origem do problema que é a insensibilidade e indiferença humana.

 

C.P - Apesar de estar descrente da raça humana, você e a A4 continuam tentando alguma forma de solução. De onde vem o incentivo?

ANDERSON - Exato. Temos que persistir. Apesar de tudo temos que persistir, por isso nós vai muito às escolas, nós acreditamos que essas crianças lá no futuro possam fazer parte de uma sociedade mais justa e que respeitem bem os animais.

 

C.P - Teve alguma situação, ou algumas situações que mais marcaram você?

ANDERSON - Ao longo desses anos eu me deparei com casos que me impressionaram e me fez questionar: “Quem são os racionais nessa relação? Seríamos nós ou os animais?”. Eu me deparei com situações horríveis. Eu me lembro de cadelas estupradas, animais queimados, com os olhos perfurados a facas, pessoas que se mudam, casais que se divorciam, deixam a casa justamente com o animal lá. Eu mesmo já tive que pular o muro de uma casa para resgatar um animal que estava praticamente morto de tão magro, morrendo por inanição. Não tinha água e nem comida. Outra vez resgatamos um cão que teve os testículos arrancados à faca, então eu diria que essas situações me marcaram bastante.

 

C.P - Em sua opinião, você acha que existe alguma solução para o problema do abandono de animais em Campina Grande?

ANDERSON - Solução não em curto prazo, mas a médio e longo prazo, sim. Eu diria que se houvesse um maior envolvimento da sociedade e do poder público, já que é uma questão de conscientização, de politização das pessoas e isso não se dá rapidamente. Educação é um processo e tudo isso diz muito respeito à educação. A forma como nós vemos, como nós agimos tem uma influência cultural muito forte. Por exemplo, a vaguejada, que é uma forma de se divertir “à custa” dos animais e está previsto por lei que isso é crime, mas é tão cultural, que essa lei ainda não fincou. Quem sabe no futuro teremos um sociedade mais justa e mais amorosa com os animais, não é? Mas inicialmente, é isso. Eu diria que a participação do poder público é fundamental, pois eles dispõem de recursos, são ouvidos e têm a sua disposição a mídia.

 

C.P - Como a A4 surgiu?

ANDERSON - O que fez com que nós, voluntários nos reuníssemos em torno desse ideal de resgatar, acolher e tentar viabilizar estratégias para promover certa dignidade para esses animais abandonados foi justamente a sensibilidade e a necessidade que nós víamos que é real, que é verdadeira. Todos vocês ao passarem pelas ruas, é difícil nunca ter visto um animal abandonado, não é? Nós, de certa forma, já fazíamos esse trabalho de forma isolada, então cada um dentro das suas possibilidades, dentro do seu bairro da sua cidade já atuava com aconselhamento, com resgate de alguns animais, levando-os ao veterinário e com o tempo fomos nos conhecendo, já tem mais de 10 anos que nos conhecemos e nos reuníamos e há 10 anos formamos essa associação que leva o nome de Associação dos Amigos dos Animais Abandonados – A4, A4 porque o início de cada palavra é com a letra A. Então o início da A4 foi dessa forma, com esse grupo de pessoas, de voluntários que são interessados nessa causa do bem estar animal.

 

C.P - Como era incialmente, o trabalho de vocês?

ANDERSON - Inicialmente começamos de forma muito simples, muito precária. Nós alugamos uma casa no Santo Antônio e os animais que nos resgatávamos da rua ou que tirávamos da posso de algumas pessoas que não tinham condições de prover os cuidados básicos para com estes animais, então encaminhávamos para as clinicas veterinárias e eles eram tratados e num período de uma ou duas semanas, nós ficávamos pensando: “E agora, o que fazer com esses animais, devolver para as ruas ou devolver para essas famílias que já demonstravam que não tem condições de cuidar deles?”. Então foi aí que resolvemos alugar essa casa com a pretensão de que eles passassem um tempo limitado lá, e posteriormente fossem adotado, o que não acontece. É muito difícil a adoção de animais que não tem raça definida, de animais que estão mutilados ou estão de alguma forma vitimados pela ação humana. Com o passar do tempo, fomos ganhando notoriedade, as pessoas foram conhecendo mais o nosso trabalho e conseguimos enfim construir uma sede com condições mais adequadas para esses animais, com um espaço maior, um pouco distante da cidade e que abriga tanto cães como gatos. Então hoje, nós já temos ANDERSON -  anos de atuação aqui em CG enquanto ONG, a nossa sede fica no bairro da Catingueira e nós não costumamos divulgar o nosso endereço, porque à medida que as pessoas tomam conhecimento do endereço do abrigo, elas começam a ir até lá e depositar os animais.

 

C.P - Como é feito o acolhimento dos animais? Vocês buscam na rua?

ANDERSON - Tanto as pessoas às vezes nos ligam para fazer uma denúncia de algum vizinho que está maltratando os animais, ou algum animal que se encontra abandonado e, muitas vezes, nós do abrigo nos deparamos com animais nas ruas, recolhemos e tentamos ajudar.

 

C.P - Quando vocês encaminham os animais para as clinicas veterinárias, elas são parceiras de vocês ou existe algum custo?

ANDERSON - Alguns fazem o trabalho voluntário, outros fazem um abatimento na verdade, fazem uma redução no preço e alguns não cobram porque já conhecem nosso trabalho. Faria muito de acordo com a condição que o animal chega lá. Alguns se sensibilizam com a causa e ajuda, mas no geral, eles reduzem um pouco o valor que cobram do abrigo, principalmente quando é castração.

 

C.P - Quais as espécies de animais que a associação abraça?

ANDERSON - Então... Nós realmente só trabalhamos com cães e felinos que são vítimas da ação humana sejam da indiferença desses que estão pelas ruas, os animais errantes que estão perambulando pelas ruas ou os animais que estão sob a posse ou responsabilidade de alguém e sofre maus tratos, então a medida que nós recebemos essa denúncia, vamos até lá e resgatamos. Sempre nosso trabalho segue essa ordem: resgate, encaminhamento para o veterinário e, posteriormente, ou nós tentamos a adoção ou levamos para o abrigo.  E ainda assim no abrigo continuamos a tentar a adoção, pois é preciso que esses animais tenham uma família. Nós gostaríamos muito que o abrigo fosse um lar temporário para esses animais, porque o ideal é que eles tenham uma família.

 

Colabore e ajude a ONG A4 

C.P - Trabalham no local profissionais especializados? Ou são voluntários e trabalham por amor à causa?

ANDERSON - Em torno de 25 a 30 pessoas, incluindo voluntários. Funcionários nós só temos um, recentemente nos tivemos e ainda estamos tendo um apoio considerável do Parque Tecnológico. O parque nos ajudou com o custeio de uma médica veterinária e ela vai até o abrigo duas ou três vezes por semana. Ajuda também por meio de um colaborador para os serviços gerais, e também vai duas vezes por semana ajudar com os serviços de limpeza, algum tipo de reparo e também o Parque Tecnológico nos ajuda com a construção de alguns espaços para atendimento, triagem. Porque antigamente o abrigo só era dividido em telas mesmo que comportavam animais.

 

C.P - Quantos animais o abrigo comporta?

ANDERSON - Hoje o abrigo comporta exatamente 200 animais, já está na sua capacidade máxima. As celas são coletivas. São três gatis, um gatil pra filhote, o outro para animais doentes e um gatil maior para todos eles. E os cães são divididos por celas de acordo com a afinidade deles. Todos os animais são castrados então não há necessidade de divisões entre machos e fêmeas. Antes  de irem pro abrigo eles são castrados, e se não forem, eles ficam em uma cela reservada junto com outros para que não haja maiores problemas, mas todos são castrados, então a divisão nós fazemos por afinidade entre eles.

 

C.P - Com que recursos vocês mantem a associação?

ANDERSON - Doações. O abrigo também foi construído com dinheiro de doações e essas doações vem de pessoas sensíveis a causa. O terreno quem nos doou foi uma senhora, que inclusive trabalha conosco na diretoria e todos nós saímos em busca de empresários, de pessoas que podiam ajudar. Foi aquele trabalho de formiguinha mesmo, que desde o alicerce, desde a tinta do abrigo nós fomos à busca com muito esforço, não foi fácil. O abrigo foi inaugurado tem cinco anos e durante esses outros cinco anos da ONG foram à busca de recursos para a construção do abrigo, mas todo ele foi erguido com a ajuda de pessoas sensíveis a causa, de voluntários ou de pessoas que simpatizam com a causa de animais abandonados, mas nenhuma ajuda por parte do poder público. Mensalmente, nós temos uma despesa em torno de cinco mil reais, porque imaginem, são 200 animais e nós temos que ter ração, medicamento, funcionários. Além do trabalho dos voluntários, nós temos que ter funcionários para o trabalho mais pesado, o trabalho de limpeza e manutenção do abrigo que é uma área muito extensa.

 

C.P - E do poder público, vocês têm algum tipo de incentivo?

ANDERSON - De forma alguma. Nós sempre apelamos ao poder público, aos governantes, principalmente para a necessidade de castração, de promover a cirurgia de laqueadura nesses animais de forma que impeça que eles se multipliquem e se tornem vitimas de toda a crueldade humana. É importante desmistificar a ideia de que quando você castra um animal você está impedindo um direito dele. De maneira nenhum, o animal precisa de cuidados necessários, de carinho, mas não há uma forte necessidade sexual neles, e tentamos conscientizar as pessoas. Mas ai vocês podem se questionar: “Como sensibilizar o poder público? De que forma os governantes vão perceber isso?”. O argumento da sensibilidade não funciona nas autoridades, então nós recorremos ao argumento de que um animal abandonado também se refere a questão de saúde pública, pois alguns animais errantes podem ser fontes de doenças que são transmitidas ao homem e, um animal abandonado pode perturbar a ordem publica, pode ser agressivo e também levar a alguns acidentes automobilísticos e nós sempre utilizamos desses argumentos, mas infelizmente ainda não somos ouvidos pelo poder público. Já nos reunimos diversas vezes com autoridades municipais, estaduais, mas infelizmente nada.

 

C.P - E com relação à sociedade como um todo? Vocês realizam algum tipo de ação para conscientizar as pessoas a não abandoarem animais na rua ou até mesmo a não maltratarem?

ANDERSON - Nós sempre fazemos campanhas em escolas aqui de Campina Grande. Tanto em escolas privadas como públicas. Alguns exemplos são a mostra pedagógica que fizemos o ano passado na Escola Estadual de Santo Antônio e visitas a escola municipal em Puxinanã, a escola municipal em Pocinho e o colégio Motivam aqui em Campina Grande. E aí nós tanto íamos com alguns animais para disponibilizar para adoção, como também promovíamos palestras e reflexões com alunos, buscando principalmente educar os pequenos, para que no futuro eles sejam adultos mais conscientes com o direito dos animais.

 

C.P - Em relação ao processo para se voluntariar? O que a pessoa interessada deve fazer?

ANDERSON - A pessoa é submetida a uma breve entrevista e nós explicamos como é o campo de atuação e como a pessoa que está se voluntariando na ONG pode ajudar, e de acordo com a afinidade da pessoa ela escolhe ou ir até lá dar um banho, brincar com os animais, ou outros tipos de trabalho.

 Fotos: Acervo da ONG

Entrevista produzida por:

Marcos Junior

Robson Batista

Allan Gomes    

Valdênia Soares

                         19/12/2015

Colabore e ajude a ONG A4 

bottom of page