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Não há como falar com Maria Ferreira da Silva, 76, sem chamá-la pelo apelido. “Meu nome é Maria Ferreira da Silva. Eu tenho 78 anos. Não, 78 não, tenho 76 anos. Pode me chamar de Didi. Eu sou a dona Didi”, é ela quem diz. 

 

As mãos carregam as marcas do tempo, e o tempo conta a história da moradora mais antiga, ainda viva, da famosa Rua da Pororoca, uma das mais importantes vias históricas da cidade.

 

No ano em que Campina Grande celebra o sesquicentenário, a vida de dona Didi praticamente se confunde com a história da Rainha da Borborema - que se desenvolveu timidamente em torno da Estação Ferroviária Great Western, da Vila Nova da Rainha, da Catedral de Campina Grande e do Beco da Pororoca.

Dona Didi na sacada da sua casa

COM A PALAVRA - Como era esta rua quando a senhora chegou aqui?

DIDI - A rua era fechada, e não havia saída. Na época de Enivaldo Ribeiro (ex-prefeito da cidade), foi que ele abriu a saída rua, e Ronaldo Cunha Lima foi quem calçou. As casinhas eram tudo de taipa. Só casebres. Por sinal, eu tenho até uma prova escrita da maior professora da rua. A famosa Maria Garrafada. Eu conheci ela nova e conheci ela velha.

 

C. P - Faz tempo que a senhora mora nesta casa?

DIDI - Ah, minha filha, faz tempo demais! Cheguei aqui, quando essa rua ainda era na terra. Mas faz muito tempo. As casas não eram nem assim. A gente vê essas casonas bonitas, não é? Eram nada. Era tudo na terra. Uma fileira de casebres. Quando chegamos aqui, a rua era no chão batido, no barro. Tudo na rua era casinha de taipa. Caminhão de mudança não entrava nessa rua não. Só entrava mudança em carroça de burro. Fui morar lá no finalzinho da rua. Era tudo muito humilde, e com o tempo a rua foi tomando forma. Lembro que o pai de Rômulo Gouveia comprou um terreno aqui. Sempre foi uma rua simples. O tempo foi passando né? E as casinhas foram se ajeitando.

 

C. P - A senhora sabe a história do nome dessa rua?

DIDI - Ali naquele terreno baldio, abandonado, tinha um pé de árvore bem grande. O tronco dela era bem grosso, e ela se chamava Pororoca. Quando o povo vinha, já conhecia o pé de árvore, e chamava a rua da Pororoca.

 

C. P - A senhora foi feliz nessa rua?

DIDI - Fui. Fui graças a Deus. Eu cheguei aqui sem nem uma colher de pau. Hoje tenho três casinhas. Construí minha família aqui. Tenho três filhas, três netos, dois genro e um bisneto. Sou feliz, né? Vim sem nada, só com uma malinha na cabeça. Estou feliz né? Só não sou mais feliz porque meu marido já morreu. Mas eu adoro essa rua. Essa é a melhor rua de Campina Grande que tem pra se morar. É calma. De noite você dorme, e é uma tranquilidade grande. Nunca aconteceu nada.

Quem foi Maria Garrafada?

Entrevista produzida por:

André Macedo

Artur Lira

Renata Fabrício

A mais antiga moradora da

famosa rua da Pororoca 

Foto: Artur Lira

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