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Vencedor do 2014 Essex County Parks Photography Contest, o fotógrafo e jornalista Jorge Barbosa iniciou sua carreira nas redações dos principais jornais paraibanos, como Correio da Paraíba, Jornal da Paraíba e Diário da Borborema, atuando como repórter das editorias de cidades e política. Formado em jornalismo pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e com pós-graduação em Jornalismo Político pela Posead (DF), também trabalhou para revistas e jornais nos Estados do Ceará e da Bahia. Desde o ano de 2009 atua como freelancer, desenvolvendo trabalhos de fotografia documental, marketing e fotojornalismo, além de eventos.

 

Com trabalhos publicados em vários meios de comunicação, como revista National Geographic Brasil e outras, Jorge Barbosa busca equilibrar sua fotografia entre a natureza e o meio urbano, sempre inserindo o homem nestes contextos, como parte integrante e inseparável. Nessa linha, produziu trabalhos documentais em diversas áreas do Brasil, Austrália e Estados Unidos, onde atualmente reside.

Jorge Barbosa: do Brasil para o mundo

Fotos: Acervo pessoal

COM A PALAVRA - O que significa a fotografia para você?

JORGE BARBOSA - Costumo dizer que é uma forma de viver, que está além da profissão. É um sacerdócio. Comecei a fotografar por hobby, encantado pela magia da fotografia, de captar uma imagem e colocar nela um pedaço de mim, minha visão e interpretação da vida. Então nunca houve na verdade uma questão financeira como ponto de partida para a fotografia, mas sim uma questão de sobrevivência, de se sentir bem, de fazer algo que transpareça o que sou, o que sinto e como vejo o mundo. A fotografia nos salva de muita coisa que o mundo nos impõe. Ela é meu terapeuta e minha terapia. É sobrevivência mesmo, mas não no sentido de trabalho ou financeiro, mas no sentido de alimento e ar para respirar e continuar a jornada. Lógico que com o tempo vem o profissionalismo e o mercado de trabalho. Mas maior parte da minha vida de fotógrafo eu usei a fotografia para mim, para o prazer que tenho em me relacionar com o mundo através dela.

 

C.P - Você já trabalhou em diversos segmentos da fotografia, mas qual é, de fato, a área que você mais gosta de trabalhar?

JORGE - O fotojornalismo. Devido à minha formação acadêmica de jornalista. E quando falamos em fotojornalismo falamos também em fotografia de natureza, paisagística, pois isso também sempre empreguei no fotojornalismo, em publicações especializadas em viagens, meio ambiente, natureza, religiosidade. Então, nesse sentido, existe uma modalidade do segmento que lá no exterior é denominada de "fotografia de viagem", ou "fotógrafo de viagem", que também é fotojornalismo e isso é o que mais me interessa.

 

C.P - Você saiu de Campina Grande para o exterior. O que motivou essa saída?

JORGE - Desde que me formei em Jornalismo pela UEPB eu trabalhei como repórter de jornal impresso. Primeiro no Juazeiro do Norte (Ceará), e depois nos jornais paraibanos, como Correio da Paraíba, Jornal da Paraíba e Diário da Borborema. Neste último terminei por especializar em jornalismo político, que foi o alvo da minha especialização acadêmica. Depois de 10 anos atuando no jornalismo impresso, chega um momento que cansa aquela rotina de jornal diário. Por conta da minha atuação como repórter, acabei por me distanciar um pouco da fotografia que praticava desde o período da faculdade. E sentia falta disso. Então decidi sair do Diário da Borborema e voltar a me dedicar à fotografia.  Isso aconteceu no final do ano de 2009. E influenciado por minha esposa, na época, que era jornalista e professora de inglês, decidi passar um tempo morando na Austrália para estudar inglês. E nessa etapa retornei à fotografia, tendo a cidade de Sydney como meu campo de exploração fotográfica. Mas em tese, minha saída para o exterior teve como pano de fundo a necessidade de voltar "a ver o mundo quadrado", por meio de uma câmera fotográfica.
 

C.P - O mercado lá fora é diferente do local? Como foi esse momento de transição?

JORGE - É bem diferente mesmo. Tanto em valorização do profissional, que lá é levado bem mais a sério, quanto na forma de exercer a profissão. Mas minha transição se deu de forma gradual, pois continuei produzindo para publicações brasileiras, como freelancer, onde passei a vender o material que eu produzia lá fora, mesmo que ainda de forma tímida. Somente quando retornei da Austrália e em seguida fui morar nos Estados Unidos foi que passei a atuar mais diretamente para o mercado externo.

 

C.P - como você enxerga esse período lá fora?

JORGE - Muito satisfatório. Tive contato com grandes profissionais e evoluí na fotografia, mesmo ainda me considerando uma espécie de "amador avançado". Mas lá fora ganhei muita experiência, tive tempo para fotografar à exaustão, procurando a foto perfeita com calma, me dedicando a observar e muito mais do que fotografar, a entender o movimento do tempo, da luz, das estações do ano, das alterações climáticas, da sociedade. A partir disso pude aprimorar minha visão e assim começar a fotografar diretamente para o mercado internacional, pois foi no ano de 2012 que consegui, após um longo processo de seleção, integrar os quadros da agência de fotografia "Cavans Image", situada em Nova York, mas que comercializa as imagens dos fotógrafos associados para o mundo inteiro. Essa agência tem um foco maior no "life style", que são fotografias de cotidiano e se aproxima muito do fotojornalismo. Até hoje ainda envio fotos para a avaliação deles e possível comercialização.

 

C.P - Em 2012 você retornou à Campina Grande. Qual foi a sua motivação?

JORGE - Na verdade, eu retornei à Campina Grande no segundo semestre de 2011, vindo da Austrália, pois tinha terminado meus estudos por lá. Mas no ano seguinte, em 2012, eu segui para os Estados Unidos. A princípio pensava em passar alguns meses, mas me adaptei muito rápido e fui ficando. Nesse mesmo ano eu retornei apenas para trabalhar na campanha eleitoral, como fotógrafo, que é minha praia e que remete à minha formação de jornalista político. Fiquei apenas três meses, que foi o período que durou a campanha. Depois retornei aos Estados Unidos e permaneci até março desse ano (2015). Mas sempre retornei aqui, vez por outra, para fazer algum trabalho ou por questões familiares.

 

 

C.P - Com toda essa experiência acumulada durante esses anos, como você enxerga o mercado da fotografia no cenário atual?

JORGE - Ainda é restrito no campo do fotojornalismo. Os jornais, por exemplo, investem cada vez menos no setor. Por outro lado, há um mercado sempre crescente no setor de marketing, de publicidade, que paga bem e sempre exige bons trabalhos e bons fotógrafos, pois a imagem é algo essencial na propaganda. Há também um mercado que sempre se mantém com espaços múltiplos e em constante ascensão para alguns fotógrafos que é o "social", como alguns costumam definir. São aqueles ensaios fotográficos, ou books, como fotos de casais, pré-casamento, "debutantes", casamentos, aniversários, batizados, essas coisas. Que não é minha praia e até me recuso a fazer. Quando faço é apenas para amigos e geralmente de forma gratuita. Mas tem muita gente vivendo disso e ganhando bastante dinheiro com esse segmento. Há também o mercado de moda, que promove espaço para muita gente, tanto fotógrafos experientes como iniciantes. Durante um tempo produzi editoriais de moda para duas revistas no Estado da Bahia, onde trabalhei como fotógrafo e editor de fotografia. Gosto de fazer, mas depende da proposta, desde que seja algo mais livre, e não pautada em modelos pré-estabelecidos do setor, que é o que acontece geralmente.

 

 

C.P - Hoje você é fotógrafo da PMCG, foi peça fundamental na construção imagética da campanha vencedora do atual prefeito da cidade, em 2012. Qual a diferença desse trabalho em comparação com os outros?

JORGE - O trabalho na PMCG é fotojornalismo também, mas nesse caso direcionado à comunicação institucional. É uma forma de fazer jornalismo com uma pegada de marketing, de propaganda. Você trabalha a informação, a notícia, mas elaborada de uma forma que ela fique mais sedutora, pois você está trabalhando a imagem de uma instituição, como algo vendável. Então é bem parecido com o trabalho de campanha eleitoral, onde você trabalha a imagem de um candidato como forma de vendê-la positivamente. A diferença é que agora trabalhamos a imagem da instituição gerida por esse candidato. E eu gosto muito dessa parte do fotojornalismo. É necessário se integrar por completo na instituição e conhecer bem seus problemas e virtudes para poder extrair a imagem dela, algo que seja um reflexo das práticas da instituição.

 

C.P - Você já chegou onde pretendia chegar com a fotografia? O reconhecimento que você tem hoje é o que você esperava?

JORGE - Não. De forma alguma. Não penso assim. Não tenho lugar nenhum para chegar. Tenho trabalhos em mente, que me perseguem o tempo todo e que luto para poder idealizá-los um dia. Mas sempre somos barrados em questão de patrocínio ou condições de fazer, pois muitos projetos fotográficos, para chegar a se concretizar, necessita de recursos financeiro e tempo. E isso poucos fotógrafos possuem. Mas nada disso envolve reconhecimento. Logicamente que é legal quando você produz algo e o contratante ou até mesmo o público aprova. O aplauso é o maior incentivo para quem produz algo que foi concebido por meio da criatividade. Mas meu reconhecimento deve partir sempre de mim mesmo. Algo que eu faça e você considere legal ou genial, para mim pode não ser, uma vez que eu poderia estar esperando mais daquilo ou tinha outra coisa em mente. Da mesma forma que algum trabalho meu pode não fazer o mínimo sentido para você, mas que para mim pode ser a coisa mais completa que já produzi. Então eu sou o meu crítico mais feroz e meu termômetro. É de mim que deve partir o reconhecimento. Quando eu consigo produzir algo da forma que eu imaginei que seria, vem a satisfação e o reconhecimento próprio. É só isso que busco. É onde eu pretendo chegar com a fotografia: ao meu entendimento, o casamento entre o pensamento e prática. Isso é o que me satisfaz. No resto não espero reconhecimento de mais nada. Se o trabalho contratado for da forma que o cliente esperava, ótimo. O elogio nesse caso não é reconhecimento, mas apenas uma forma de dizer "obrigado" por eu ter feito nada mais nada menos do que minha obrigação. Ao mesmo tempo que elogios e reconhecimento por trabalhos autorais, ou o conjunto da obra fotográfica da vida toda, é algo legal como forma de incentivo para a gente entender que estamos no caminho certo. E o ponto é esse: continuar a caminhada porque temos muito o que aprender. Ainda tenho muito o que aprender. Estamos sempre começando.

Entrevista produzida por:

Eduardo Philippe

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11/12/2015

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