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 "Eu posso dizer que sou feliz por ter    ultrapassado as barreiras da Paraíba" 

 

  Roberto Batista Reis  

Foto: Euzelir Fidelis

Na primavera de junho de 1974, chegava ao mundo Roberto Batista Reis, ninguém sabia, mas no pequeno sítio Jenipapo, que fica na cidade paraibana de Remígio, tinha nascido um grande artista. Os agricultores Antônio Silva Reis e Cleonice Batista Reis, ganharam naquele momento um lindo filho que os traria imenso orgulho durante suas vidas.

 

O Artista como muitos de família humilde, faz toda sua trajetória escolar na rede publica. Através das aulas de desenho ainda criança, descobriu o gosto pelas artes. As portas para o mundo se abrem quando este aos quinze anos embarca na aventura de um curso de Desenho Artístico e Publicitário por correspondência, que era oferecido pelo Instituto Universal Brasileiro. Posteriormente, vem estudar na cidade, onde cursou o ensino médio. Mas, sempre nutrindo um sonho de se especializar em sua área, adentra na Universidade Federal de Campina Grande, no curso de Desenho Industrial.

 

Roberto pode ser definido como um artista multitarefa, além de pintor é desenhista, cenógrafo, escultor e fotógrafo.  Ele herdou parte do talento do seu pai, que faz esculturas em madeira.

 

O talento para as artes despertou de forma espontânea, ao ponto de Batista se considerar autodidata, atualmente aos 40 anos, continua sempre em busca de aperfeiçoamento no que refere a sua profissão. O mesmo já teve seu trabalho reconhecido no âmbito local, mas também em cidades de vários estados (Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo) e a nível internacional chegando a Europa. O artista, mesmo com todo o reconhecimento de sua arte, sempre está em busca de alçar novos vôos cada vez mais altos. Seu objetivo é continuar levando aos apreciadores de suas obras o encanto e admiração.    

COM A PALAVRA - Quem é Roberto Batista Reis?  De onde você é? Fale um pouco de sua história.

ROBERTO REIS - Sou natural de Remígio, nasci no sítio Jenipapo. Sou filho dos agricultores Antonio Silva Reis e Cleonice Batista Reis, toda minha infância foi na zona rural, estudei em escola pública desde criança e foi justamente na escola que desenvolvi esse lado artístico. Lembro que na sexta feira, era dia de aula de desenho, então eu ficava fascinado com aquelas aulas. As condições eram precárias na questão de material, mesmo assim, nós procurávamos desenvolver um bom trabalho. Lembro também que eu fazia meu trabalho e dos colegas, talvez por isso, tenha desenvolvido esse lado artístico. Então o tempo passou, vim estudar aqui na cidade de Remígio e sempre observava trabalhos de outros artistas. Naquela época era mais complicado, porque eu não possuía televisão, nem tinha acesso a revistas, era na escola através dos livros nas pesquisas que despertei o interesse pela pintura. Quando completei quinze anos, fiz um curso por correspondência pelo Instituto Universal Brasileiro, e muitos da minha família não deram credibilidade, pensavam que era apenas um passatempo.

 

Considero-me um autodidata, tenho facilidade para aprender e estudando sozinho, por isso adquiri um bom conhecimento na parte teórica, o que me introduziu na parte mais didática da arte propriamente dita.

 

C. P - Este curso que você participou, era mais voltado para o desenho?

ROBERTO - Era desenho e tinha as últimas aulas de pintura, você aprendia o básico. Porém, com aquele básico, comecei a fazer experimentos. Naquela época não tinha o material, só tinha em Campina Grande. A tinta a óleo era muito cara, eu trabalhava e mesmo assim, sofria para pagar o curso, que teve duração de oito meses. E aqui vou contar uma história engraçada. Eu chamava mamãe para ir comigo até uma fazenda chamada Cananéia, lá tinha gado e eu sabia que o pincel era feito do pelos da orelha de bois. Mãe pegava o capim para alimentar os animais, já eu, cortava os pelos da orelha do boi pra fazer o pincel, fazia essa artimanha, como não tinha condições de comprar, eu mesmo fazia meu material de trabalho.

 

Logo em seguida comecei a pintar murais de políticos, vi que realmente a prática nos faz evoluir. Comecei a pintar quadros nas paredes de lanchonetes, também em casas e fui ganhando experiência com pinturas. As coisas começaram a mudar, ganhei dinheiro com isso.

Quando chegou de fato a pintura na minha vida, que eu comecei a trabalhar os experimentos com cores, textura, toda essa parte artística foi se desenvolvendo por completo. Então comecei a produzir trabalhos com minha identidade, era o que eu realmente queria. Chega um cliente que dizia: Roberto eu quero uma determinada sena. Dali por diante, eu começo a esboçar, faço um estudo de cores, proporções até chegar à parte final da obra.

 

Eu faço também retrato de pessoas e recentemente venho trabalhando com pinturas sacras, a exemplo da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Patrocínio em Remígio. A partir dessas pinturas surgiram outras Igrejas que já foram agendadas para 2015. Como eu falei, atuo em outras áreas: como fotografias, cenografia. Recentemente, fui contratado para fazer todo o cenário natalino aqui da cidade de Remígio, e terá toda a parte viva no local, vamos utilizar animais e como tenho um estudo da parte técnica isso me permite projetar todo o cenário. Outro trabalho muito interessante foi o arraial de São Pedro deste ano de 2014, reproduzi uma casa de farinha no centro da cidade que realmente funcionava.

 

C. P - Como aconteceu o chamado para o trabalho na Igreja Matriz de Remígio?

ROBERTO - Essa pintura da Igreja, quando criança, eu sonhava em ver aqueles arcos com pinturas. Mas, a administração paroquial e eu  nunca havíamos sentados para conversar. O interesse de fazer essa modificação do templo começou pela necessidade em reformar a Igreja. Constituíram uma Comissão formada por comerciantes da cidade juntamente com a administração Paroquial para coordenar a reforma.

 

Recebi o chamado do Monsenhor Nicodemos, que estava no comando dessa reforma, ele administra a Paróquia de Alagoa Grande e Remígio atualmente. Todos foram unânimes em começar a fazer a pintura.

 

Monsenhor quis trazer um profissional de João Pessoa para fazer essas pinturas. Os comerciantes sugeriram que seria eu (Roberto). E então quando o Monsenhor me chamou pediu que eu levasse uns trabalhos para ele ver, pois ele não me conhecia. Como se diz “casa de ferreiro, espeto de pau”. Eu tinha apenas o celular e foi o que possuía no momento para mostrar minhas obras. E quando recebi autorização para começar, me perguntei: será que consigo mesmo, pois, é um espaço muito visitado, entretanto, eu confiava no meu serviço. Falei que seria necessário um dia para fazer o orçamento e estudo dos desenhos a serem feitos.

 

Quando o Monsenhor me passou como queria as pinturas, eu pensei, se encaixa perfeitamente no que já tenho em mente e sem contar que trabalhar numa altura daquela era uma experiência nova, mesmo trazendo um sentimento de medo. Mas, eu confiava no meu potencial. Aquela era a oportunidade de mostrar meu serviço.

 

A princípio eles sugeriram de uma forma; eu de outra. Do jeito que eles (a administração), queriam não ia ser legal, pois, quando se faz um trabalho é preciso analisar a estrutura, a parte estética, cores, formas, ou seja, é preciso levar em consideração tudo isso. É importante para reproduzir um desenho em harmonia com os demais, então eu fiz o primeiro trabalho e ele (o Monsenhor) ficou encantado e disse: " é, realmente vai dar certo". Isso era só os dez arcos.

 

Perto de finalizar os dez arcos, ele olhou a parte acima do altar e disse ‘ficaria bonito uma cena ali’. Eu disse: é realmente, ‘ele disse você faria’? eu disse faço. A dificuldade é ter que ficar em cima de andaime e pintar com o pincel para baixo e como é que a tinta não vai escorrer? Pensei! Ai eu tive de usar a tinta pura, ela é um pouco mais pastosa, a as pinturas ali são criações a partir do meu conhecimento. Nem uma pintura, é cópia ou plágio de outra obra, elas possuem uma releitura. Eu só uso tinta branca, eu mesmo faço minhas cores, ou seja, aprendi dessa forma cria cores, então fui adaptando a estrutura da Igreja. Na igreja trabalhei com tinta látex, que seca muito rápido. Outra adaptação é que nós estamos acostumados com a imagem da Santa Ceia pintada na horizontal, então eu precisei fazer modificações por conta da altura e do lugar que era na posição vertical, utilizando o espaço que era disponível.

 

C. P - O melhor momento para o artista é quando ele termina a obra, ou quando este recebe o reconhecimento do seu trabalho por parte do publico?

ROBERTO - A pior parte para o artista é saber a hora de finalizar a obra. Você começa e na imaginação do artista a obra nunca estar pronta. Hoje se eu fosse fazer aquelas pintura faria diferente. Pois, minha visão naquele momento era uma, hoje é outra. A parte mais emocionante foi um dia quando eu fui à Igreja e tinha uma senhora bem simples, olhando pela fisionomia e vestimenta, observei a forma de devoção com a qual ela admirava as imagens, me emocionou e isso é gratificante. A maneira como as pessoas admiram aquelas pinturas é compensador. Não para meu ego, mas mostra que as pessoas se identificam com meu trabalho.

 

C. P - Quais são as dificuldades que os artistas sofrem no nosso país?

ROBERTO - Eu acredito que a nossa própria cultura discrimina a arte. Um artista seja lá qual for seu trabalho, as pessoas o vêem como um desocupado e, por isso, não o dá incentivo. Mas para o artista de uma cidade pequena, a principal dificuldade é a questão financeira, porque temos talentos, temos arte popular muito forte nessa região para se desenvolver, porém, essa arte fica limitada num ambiente local, deixando o artista sem ter como divulgar seu trabalho por falta de investimento. Uma exposição, por exemplo, leva tempo e investimento. Hoje existem formas de conseguir esse incentivo de vários órgãos, mas, a burocracia limita. Hoje posso dizer que sou feliz por ter ultrapassado as barreiras da Paraíba. Muitos alunos me procuram para entrevistar e fazer pesquisa, assim meu nome começou a ser divulgado.

 

C. P - Quais os planos para o futuro?

ROBERTO - Minha escola de pintura volta em fevereiro, já faz mais de dez anos que ensino e tenho um público bem diversificado, praticamente não tem mais vagas. Meu estúdio fotográfico será lançado em março. Tenho várias pinturas sacras agendadas para outras localidades. Atualmente estudo faculdade de marketing e não sei em quantos vou me dividir. Esses são meus planos para 2015.

 

C. PALAVRA - Quais artistas inspiraram a seguir esta carreira?

ROBERTO - Tenho dois artistas que admiro: Claude Monet e Pablo Picasso que são distintos. Os traços dos artistas, o drama das obras, o contraste, isso é muito importante para uma pintura. Cada obra é adaptada para seu espaço e é preciso ter esse cuidado para a obra ficar em harmonia com o ambiente.

Entrevista com Roberto Reis na Igreja Matriz 

Entrevista produzida por:

Aldenir Alves

Alyne Gurjão

Euzelir Fidelis

Greisson Lima

Thiago Soares

 

19/12/2014

Roberto Batista Reis: o mais novo

talento do Brejo Paraibano

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